Yooo minna!!!
Aqui estou eu depois de muito tempo (estou sentindo que digo isso direto), dessa vez para falar sobre dois fenômenos que explodiram: Neeko e a revelação de Soldier 76 ser LGBT+. Antes de tudo, queria explicar que eu ia fazer um texto sobre isso anteriormente, na época que aconteceu tudo, mas acabei não produzindo nada e nesse feriado de carnaval meu bloqueio cessou um pouco, então aqui estou eu.
Tenho feito isso em algumas postagens e gostei, então a partir de agora os posts serão divididos em tópicos (tipo o que algumas pessoas fazem no amino). Assim fica mais organizado e vocês conseguem notar o que eu estou tentando falar mais nitidamente.
Neeko
Explicando pra quem não é do LoL ou não está acostumado a seguir o jogo off game: Neeko é uma das últimas personagens lançadas do LoL, uma vastaya de uma tribo antiga - guardem isso, pois é importantíssimo para o desenrolar da história. Quando Neeko foi lançada, junto de sua lore e suas falas, a comunidade começou a questionar várias coisas. Dentre elas perguntaram sobre algumas falas que deixam a entender que Neeko gosta de mulheres, e um rioter envolvido no processo de criação da personagem assumiu que ela não só parece gostar de mulheres como é definitivamente lésbica.
Tweet onde Matt revela que Neeko é lésbica |
Essa revelação induziu a reações diversas, tanto pessoas comemorando o fato quanto pessoas criticando e falando sobre a Riot querer "lacrar" em cima de personagens para atrair o público LGBT+ ao invés de melhorar o servidor (o que não tem sentido nenhum). Primeiro, vou falar um pouco mais sobre a campeã.
Neeko é uma Oovi-kat, uma tribo vastaya antiga que podia se conectar com a natureza, os animais e outros seres de uma forma muito íntima, pelo sho'ma. Essa conexão dos ooki-kat pelo sho'ma permite a eles se transformar em outras formas, simular a forma de outra pessoa ao se conectar com o sho'ma dessa pessoa, sentindo o que ela sente - de alguma forma entrando em sua consciência.
Em suas falas, ela fala sobre se conectar e identificar com o sho'ma de personagens femininas, em especial Nidalee. De acordo com sua lore, Neeko passou um tempo na tribo de Nidalee depois de percorrer Runeterra quando sua tribo foi dizimada por noxianos. Ela acabou criando um vínculo muito forte com Nidalee, que acabou se tornando uma paixão não correspondida. Ou seja, Neeko ama Nidalee, e deixa isso claro em suas falas, mas Nidalee não corresponde a esse amor.
Varus e a recepção da comunidade
Desde que Neeko e sua orientação sexual foram reveladas, eu digo que Neeko não existiria sem o rework do Varus, e por que isso?
A comunidade gamer é essencialmente preconceituosa. É estranho pensar que pessoas que há poucos anos eram rejeitados e diminuídos por serem "gamers", hoje em dia se mostram uma das comunidades mais preconceituosas e mente fechada. Não vou adentrar aqui no porquê disso, já que nem eu sei tentar justificar esse pensamento, mas vou me ater a receptividade da comunidade em relação à personagens LGBT+.
As histórias do LoL antigamente não faziam muito sentido, não eram coisas que se relacionavam entre si. Eram histórias fechadas que não se cruzavam e com o tempo isso acaba prejudicando o mundo criado. Há alguns anos (2016~2017) a equipe que cuida das histórias renovou tudo para começar a encaixar as histórias e cronologias dos campeões para começar a fazer algum sentido. Com isso muitas histórias foram modificadas, algumas eu realmente não gostei e não achei necessidade de mudar (como a do Amumu, já que ele inicialmente era um yordle e nessa nova lore ele é uma criança humana), já outras mudaram e deram um sentido a mais ao personagem. Varus foi um desses.
Varus em sua antiga lore era muito superficial, noxianos mataram sua familia e ele estava em busca de vingança, ponto final. Em sua nova lore, Varus é um darkin que possuiu o corpo de dois humanos, Valmar e Kai, ao ser libertado por Valmar para salvar a vida de Kai, gravemente ferido por noxianos (sempre eles) que invadiam o vilarejo. Kai era a "luz da vida" de Valmar, algo que é citado várias vezes na lore do Varus e nos quadrinhos que contam a origem deles, seria o equivalente a alma gêmea, e Valmar não conseguiria viver sem Kai, por isso preferiu sacrificar a si mesmo e a Kai para tentar salvá-lo mesmo que por meio do darkin "Varus". Varus então consumiu os dois e uniu-se a eles num corpo habitado por 3 consciências.
À esquerda Kai e a direita Valmar, antes de caírem no poço ode Varus se encontra |
Ao introduzir um casal gay diretamente na lore de um personagem, a Riot começou a cutucar uma ferida dos jogadores, a associação com homossexuais não era benquista com o público extremamente tóxico e preconceituoso, majoritariamente masculino e hétero, de League of Legends. Varus foi a faísca para algo que a Riot começou a introduzir no jogo: representatividade de LGBT+'s. Varus não é gay, ele é uma entidade sem gênero, mas Valmar e Kai são um casal gay apaixonado. Isso não influencia nada no jogo, mas é importante.
Sem essa iniciativa, o LoL nunca teria uma personagem abertamente lésbica e protagonista da própria história, como Neeko é. Ela tem uma ingenuidade própria de gente do interior ao conhecer cidades grandes, o que muita gente confunde com ingenuidade infantil que não é o caso, já que Neeko é milenar. Ao mesmo tempo ela fala coisas completamente adultas que uma criança não entenderia o duplo sentido, e em suas falas vive cantando Nami (e inclusive pergunta dela para outros campeões). Ela se sente livre para elogiar mulheres e homens, apesar de elogiar apenas Ezreal e Rakan, considerando os outros "fedidos" (acredito que ela não goste muito do ideal de masculinidade imposto aos outros homens do jogo, já que Rakan é narcisista e, assim como Ez, tem um perfil diferente dos outros).
Neeko seria massacrada pela comunidade assim que começassem os rumores sobre ela ser LGBT+. Digo isso porque com Varus houve um momento de dúvida, "mas ele não é gay, o casal que é", "tem 3 pessoas num corpo, 1/3 dele é hétero" e por aí vai. Tudo para tirar o protagonismo desse casal, mas ainda assim eles existiram e colocaram essa semente ali. Neeko veio para ser uma protagonista, ela é ativamente uma personagem do jogo e é abertamente lésbica, sem pudor nem vergonha de ser quem é.
Soldier 76
Quando foi lançada a história "Bastet" que conta um pouco da história de Ana (que se passa nesse momento, mas fala sobre o que ela tem feito desde que saiu da Overwatch), Jack Morisson (Soldado 76) foi co-protagonista da história. Em um dado momento, Ana fala com ele sobre um antigo namorado de Jack, Vincent. Jack fala sobre ele ter uma familia agora e estar feliz pelo ex namorado, e o assunto se encerra. Foram algumas falas apenas, mas desencadearam um hate absurdo no jogo.
Overwatch é um dos jogos mais LGBT+friendly que eu já vi, se tratando da equipe de criação e lore.
Além de ser diverso em etnias e nas histórias dos personagens, que passam por todos os continentes diferente do que as empresas sempre fazem (pegar um esteriótipo e reproduzir num personagem caricato), Overwatch conta uma história no futuro, onde muitos dos problemas e preconceitos atuais já foram resolvidos, portanto a pauta LGBT+ não é um problema. Ana fala tranquilamente sobre Vincent com Jack, o clima só fica estranho porque Jack não quis falar sobre isso, já que pelo jeito foi um término difícil.
Assim como Neeko, Soldier 76 também teve um precursor importante: Tracer.
Quando foi anunciado que havia um personagem LGBT em Overwatch, todos seguiram pelo caminho mais fácil: Zarya. A campeã de halterofilismo e heroína da Rússia é todo esteriótipo de lésbica que a comunidade gamer já está acostumada: ela é musculosa, gigante, não é o padrão de beleza, e não é atribuível a ela nenhuma das condições que determinam os esteriótipos de gênero. Qual não foi a surpresa do público quando na comic de natal foi mostrado, em meio as cenas de personagens passando o natal com suas familias, em destaque Tracer e sua namorada Emily se beijando.
Emily ao receber o cachecol como presente de natal de Tracer |
Essa ainda é uma das cenas mais representativas para mim. Enquanto alguns outros personagens foram mostrados de longe, sem muitos detalhes nas cenas e sem interesse no que estavam fazendo, Tracer aparece num quadrinho destacado beijando sua namorada, que não faz parte dos heróis de Overwatch. Ovewatch colocou sua própria mascote como personagem LGBT+ de destaque, destruindo o esteriótipo de lésbica que muita gente tinha (apesar de Tracer ter o cabelo curto que ainda é atribuído as lésbicas).
Mas e com o Soldado?
Admito que existe um esteriótipo de homens muito "machos" serem gays, mas diferente desse senso, Overwatch não trata a sexualidade dos personagens como sua razão de ser. A sexualidade é só um aspecto de Jack, tratado com tanta naturalidade que o esteriótipo de homem com "H" não só é deixado de lado, como nenhuma possibilidade de trejeitos associados a homossexuais é atribuido a ele. Jack continua sendo Jack, mesmo sendo gay. E é isso que eu gosto nas histórias de Overwatch, os personagens são uma construção de várias coisas que os envolvem.
Jack continua com sua caçada atrás de Gabriel e da Talon, continua com os mesmos problemas e com as mesmas habilidades, porque afinal ele sempre foi assim. Ser ou não gay não altera nenhum outro aspecto do Soldado e é exatamente isso que me faz gostar tanto do desenvolvimento dos personagens de Overwatch (btw quero falar sobre isso quando falar sobre os curtas de Overwatch).
Foi incrível terem colocado o Soldado, o personagem mais padrão heterossexual do jogo, como personagem LGBT+. Isso continua o desenvolvimento de personagens não estereotipados do jogo.
Como a comunidade recebe personagens LGBT+
Não é novidade que sempre que o público é introduzido a um personagem LGBT+ ou de alguma outra minoria, sempre há uma rejeição. O fato de estar mais frequente a representatividade dessas minorias nos jogos, o público mais conservador tem encarado isso como "forçar representatividade" e tem usado slogans do tipo "quem lacra não lucra" para dizer as empresas que caso continuem assim vão perder público.
A verdade é que, ao introduzir personagens LGBTfriendly ou com uma temática mais voltada ao público infantil (ao estilo de Zoe no LoL) as empresas só lucram. O público que antes se mantinha afastado dos jogos por não serem atrativos, agora estão começando a entrar nesse meio, e eles têm dinheiro para gastar.
A prova disso é a Ahri, personagem do LoL conhecida por ser uma das que mais tem skins no jogo. A personagem ganha mais skins porque são as que mais vendem, logo porque não continuar vendendo? Rainha do pop, KDA, Starguardian, Fliperama, Colegial... são tantas que vou parar por aqui. A personagem em si foi feita, assim como todas as antigas personagens, para atrair o público masculino, porém suas skins são bem voltadas ao público "feminino". Assim como as skins starguardians e KDA foram mais voltadas pra esse público em crescimento.
Para a Riot, não há prejuízo em investir nesse público, pouco explorado e com dinheiro para investir. Assim como para a Blizzard, Overwatch foi uma iniciativa de FPS diferente do normal: é muito mais colorido, movimentado e com habilidades diferentes do que se encontra em FPS.
Ao perceberem que seu território está sendo ameaçado, os gamers conservadores começam a atacar a comunidade LGBT+ e feminista de modo a fazer com que eles não tentem se inserir nos jogos. O que causa dois efeitos: parte dessa comunidade realmente desiste de se encaixar, parando de jogar algo que realmente gosta por causa da toxicidade, e outra parte crava a bandeira e diz "daqui eu não saio" não se deixando ser intimidada por ameaças preconceituosas. Por isso é tão importante que empresas grandes tomem iniciativas, promovam ações de combate a esse tipo de atitude e ajudem o novo público a se inserir.
Conclusão
É sempre difícil tocar nesse tópico, pois a maioria das pessoas ao ouvir falar em certos termos ignora o resto do texto. Eu evitei aqui algumas palavras porque sei da rejeição que elas sofrem por parte do público gamer, mas outras eu usei a vontade. Fico extremamente incomodada quando alguém usa "lacrar" como um argumento contra a ação promovida por aquela empresa/marca. Às vezes não entendo se quem diz isso realmente entende a finalidade e propósito daquela ação, que muitas vezes é alcançar um público que ainda não está no meio. Eu realmente acredito que isso é reflexo de uma tentativa de proteção, que eles sentem-se ameaçados porque "tem gente diferente aqui, não estou acostumado a jogar com uma mulher que tem o mesmo nível que eu, como aquele viado sabe jogar melhor que eu?" e começam a rejeitar essas pessoas por se sentirem desfocados. Agora eles não são mais o centro das atenções, as histórias e jogos não são feitos mais só para eles, são feitos para todos e isso incomoda.
Adendo: eu mencionei um esteriótipo sobre homens muito másculos serem gays, isso existe e inclusive é um gênero do yaoi chamado "Bara" onde homens muito viris e musculosos são interpretados como gays (isso é comum no Japão). Não acho que seja o caso do Soldier 76 já que ele é um personagem americano bem padrão. Eu também falei sobre Soldier 76 ser LGBT+, já que pela história e diálogos não é possível concluir se Jack é gay ou bi, então vamos deixar em aberto.
Espero que cada vez mais as coisas mudem, que nós venhamos a conseguir nosso espaço e não necessariamente diminuir o dos outros.
Fico por aqui, até a próxima
Tahhh